sábado, 4 de junho de 2011

2º Fichamento de Gincana Genética

Síndrome de Down:
associação de fatores clínicos e alimentares em adolescentes com sobrepeso e obesidade
Psicol. teor. prat. v.11 n.1 São Paulo jun. 2009
                  Luciana Rodrigues Theodoro; Silvana Maria Blascovi-Assis
O objetivo do estudo foi identificar a ocorrência de sobrepeso e obesidade em adolescentes com síndrome de Down (SD) e estabelecer relações com alterações hormonais, cardiopatias diagnosticadas e alimentação. Participaram do estudo 40 adolescentes com SD e suas respectivas mães. Os dados foram coletados no ambulatório de um hospital em São Paulo a partir de tomada de medidas antropométricas, ficha sociodemográfica e questionário aplicado às mães. Dos participantes, 60% apresentaram sobrepeso e obesidade, acompanhados de alterações de tireoide (50%), cardiopatias (57,5%) e compulsão alimentar em (66,6%). Não houve relação direta entre o excesso de peso e a presença de cardiopatia. A combinação de diversos fatores pode interferir no ganho de peso nos adolescentes com SD, destacando-se as alterações metabólicas como o hipotireoidismo e a presença de busca compulsiva por alimentos.
A obesidade é definida como uma doença crônica de origem multifatorial que se caracteriza pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo no organismo. Sabe-se que esse quadro vem aumentando demasiadamente nas últimas décadas, e por esse motivo são inúmeros os estudos que se dedicam ao tratamento dessa doença. Porém, a epidemia ainda é pouco estudada em pessoas com síndrome de Down, cujo quadro sindrômico, associado aos problemas de tireoide e defasagem de hormônios de crescimento, propicia um maior desenvolvimento da doença.
O reconhecimento da associação entre obesidade e SD ganhou maiores repercussões com estudos realizados que apontam para a maior prevalência de obesidade nesta população quando comparada à população sem síndrome. A SD, bastante descrita na literatura, é caracterizada por ser uma alteração cromossômica de origem genética. Entre as alterações clínicas características da síndrome estão as alterações de crescimento, endocrinológicas e cardiovasculares. Essas características chamam a atenção pela sua incidência, em torno de 51% para as cardiopatias e 50% para as alterações de tireoide. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi investigar o índice de massa corporal (IMC) de um grupo de adolescentes com síndrome de Down e estabelecer relações com a presença de alterações metabólicas, cardiopatias e aspectos comportamentais relacionados à alimentação – que também aparece como fator etiológico do quadro de obesidade. 
A pesquisa, de caráter transversal, foi realizada individualmente, com base em avaliação dos adolescentes, quando foram coletadas medidas de peso e altura para cálculo de IMC. As alterações clínicas relacionadas às disfunções de tireoide e à presença de cardiopatia foram checadas junto ao prontuário médico do próprio hospital. Os aspectos alimentares foram avaliados por meio de um questionário aplicado às mães e aos adolescentes.
Os 40 participantes do estudo foram divididos em dois grupos, de acordo com a classificação relativa ao IMC para os adolescentes:
·  Grupo 1: 24 adolescentes com IMC indicador de sobrepeso e obesidade (60%).
·  Grupo 2: 16 adolescentes com peso adequado (40%).
·  Aspectos clínicos: segundo os dados obtidos para os dois grupos (1 e 2), 20 entrevistados (50%) apresentavam hipotireoidismo, e, entre eles, oito (40%) faziam uso de medicação. O acompanhamento ambulatorial incluía a dosagem dos hormônios da tireoide (T3, T4 e TSH) pelo menos uma vez ao ano. Em relação às cardiopatias, 23 (57,5%) apresentavam comprometimentos do defeito do septo atrioventricular.
·  Padrão alimentar: segundo os dados obtidos para os grupos 1 e 2 quanto à quantidade de comida ingerida, os resultados mostraram que, de acordo com a percepção dos responsáveis, 16 (40%) comem mais que a maioria das pessoas, 16 (40%) comem igual às outras pessoas e 8 (20%) comem menos. Em relação ao tipo de alimento, 20 adolescentes (50%) preferem massa, seguida de carnes, com 8 votos (20%), salgadinhos, refrigerante e legumes com 3 indicações (7,5%), chocolates com 2 (5%) e por último frutas com 1 (2,5%).
·  Compulsão alimentar: em relação à busca compulsiva por alimentos, 26 participantes responsáveis pelos adolescentes (65%) referiram perceber esse comportamento em seus filhos, 11 (27,5%) referiram não observar compulsão alimentar nos filhos e 3 (7,5%) responderam que percebem ocasionalmente essa compulsão.
·  Análise do grupo com sobrepeso e obesidade: para os integrantes do grupo 1 (24 participantes com sobrepeso e obesidade), foi investigada a relação com o hipotireodismo, as cardiopatias e a alimentação compulsiva. Observaram-se 12 casos de cardiopatias, o que equivale a 50% dos participantes. O hipotireoidismo foi constatado com base em exames clínicos anexos ao prontuário em 13 casos (54,1%).
O índice de cardiopatias encontrado no grupo estudado foi maior nos adolescentes do grupo 2 – com peso adequado (62,5%) – quando comparado com adolescentes com sobrepeso e obesidade (50%).
Em relação à alteração de tireoide (hipotireoidismo), o índice é maior em adolescentes obesos (54,1%) contra 25% em adolescentes com o peso adequado.
A busca compulsiva por alimentos mostrou-se mais presente em adolescentes com sobrepeso e obesidade (66,6%). Em relação ao padrão alimentar de preferência por massas, salgadinhos e refrigerantes em detrimento de frutas e legumes, não houve diferenças nos dados encontrados para os dois grupos.
Com base nos dados levantados neste estudo, a presença de cardiopatias parece não ter se mostrado fator decisivo no desenvolvimento dos quadros de sobrepeso e obesidade em adolescentes com SD. Já as alterações de tireoide – o hipotireoidismo especificamente – exercem influência no desenvolvimento dos quadros de sobrepeso e obesidade em adolescente com SD, fato confirmado pela literatura consultada. Os hábitos alimentares descritos parecem exercer influência no desenvolvimento dos quadros de excesso de peso.

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