Genética e linguagem na síndrome de Williams-Beuren:
Uma condição neuro-cognitiva peculiar
Natalia Freitas Rossi , Danilo Moretti-Ferreira, Célia Maria Giacheti
Fono Revista de Atualização Científica, Barueri (SP), v. 18, n. 3, p.331-338, set.-dez. 2006.
A Síndrome de Williams-Beuren (SWB) foi descrita por Williams et al. (1961) e Beuren (apud Williams, s.d.) que observaram a presença de características faciais típicas associadas à estenose supravalvular da aorta, hipercalcemia infantil e deficiência mental em pacientes não aparentados. O diagnóstico clínico desta síndrome
baseia-se nas características faciais típicas, alterações cardíacas e um conjunto de características cognitivas e de linguagem que resultam em comportamentos comunicativos e sociais bastante peculiares a esta síndrome genética.
O aspecto facial da SWB é caracterizado principalmente por bochechas proeminentes, narinas antevertidas, filtro nasal longo, proeminência periorbitária, macrostomia e lábios volumosos. As alterações cardíacas mais comuns são a estenose aórtica supravalvular e a estenose da artéria pulmonar. O fenótipo inclui a presença de deficiência mental com prejuízo nas habilidades viso-espaciais e dificuldades de linguagem / aprendizagem associadas à personalidade extrovertida e falante (Montgolfier- Aubron et al., 2000). O perfil cognitivo da SWB, Syndrome Cognitive Profile (WSCP), é conhecido pelo prejuízo viso-construtivo que contrasta com o desempenho favorável para as habilidades verbais, as quais têm sido correlacionadas às facilidades para a memória auditiva. Esta afecção genética freqüentemente é de origem "de novo".
A terminologia "denovo" é utilizada para designar que esta síndrome é esporádica e confere baixo risco de recorrência familial.
A etiologia da SWB é uma microdeleção hemizigótica, isto é, a perda de uma das cópias dos genes, localizados na região 7q11. Aproximadamente 20 genes podem estar deletados nesta região cromossômica, dentre os quais se inclui o gene da elastina (ELN). O gene ELN está deletado em aproximadamente 96% dos casos de SWB Ewart et al., 1993), o que justifica a sua investigação para confirmação diagnóstica da SWB. A deleção do gene ELN pode ser identificada pelo estudo da região 7q11.23 pela técnica citogenética molecular Hibridização in situ por Fluorescência (FISH), ilustrada pela Figura 1B. O resultado FISH negativo para a deleção do gene ELN não exclui o diagnóstico da SWB, que deve considerar a presença de sinais clínicos típicos da síndrome e a investigação por
outras técnicas moleculares mais específicas para identificação de outros genes envolvidos. No Brasil, o uso do FISH tem sido divulgado como recurso diagnóstico associado ao estudo das características clínicas da SWB, com a finalidade de estabelecer parâmetros para a solicitação deste exame pelo geneticista (Sugayama 2001; Souza, 2003).
Características clínicas : O fenótipo da SWB é caracterizado por alterações cardíacas, sinais faciais e características de personalidade, cognição e linguagem. A sintomatologia cardíaca é o sinal clínico que freqüentemente permite o diagnóstico precoce da SWB, pois pode ser identificada nos primeiros anos de vida. Aproximadamente 75 a 80% dos casos com a SWB apresentam alterações cardíacas, sendo as mais freqüentes a estenose aórtica, em aproximadamente 65% dos casos e a estenose da artéria pulmonar em 38% dos casos (Sugayama ET al., 2001).
As características faciais geraram denominação algumas vezes polêmicas para esta afecção genética, denominada fácies de duende. A fácies de duende foi atribuída pela presença de dismorfismos faciais, caracterizados por nariz arrebitado, ponte nasal achatada, região orbital profunda, macrostomia, lábio inferior volumoso, bochechas proeminentes e filtro nasal longo. Atualmente, esta denominação deixou de ser utilizada por conferir aspecto pejorativo. Outras características clínicas podem estar presentes como: hérnia inguinal e umbilical; íris estrelada; característica vocal rouca; otite média recorrente; alterações dentárias; atraso no crescimento intra-uterino; baixa estatura e baixo peso ao nascimento. O baixo peso costuma ser persistente nos primeiros meses de vida, devido à dificuldades na alimentação e problemas gastrintestinais (Pankau et al., 1994; Souza, 2003).
Fonte: WWW.google.com.br
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